Nos antigos dias, quando a primeira palpitação da linguagem chegou aos meus lábios, subi a sagrada montanha e falei a Deus, dizendo: "senhor, sou teu escravo. Teu desejo oculto é minha lei, e obedecer-te-ei para sempre."
Mas Deus não respondeu e, como uma poderosa tempestade, seguiu adiante.
Depois de mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: "criador, sou tua criação. Da argila me fizeste, e a ti devo tudo o que sou."
Deus não respondeu mas, como um milhar de asas ligeiras, seguiu adiante.
Depois de outros mil anos, subi a sagrada montanha e falei a Deus novamente, dizendo: "Pai, sou teu filho. Com piedade e amor deste-me nascimento, e mediante amor e adoração herdarei teu reino."
E Deus não respondeu e, como uma neblina que encobre os montes ao longe, seguiu adiante.
Depois de outros mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: "Meu Deus, minha meta e minha completação, sou teu ontem e tu és meu amanhã.
Sou tua raiz na terra e tu és minha flor no céu; juntos crescemos ante a face do sol."
Então, Deus curvou-se sobre mim e sussurrou palavras doces ao meu ouvido, e, tal como o mar envolve um arroio que corre para ele, assim ele me envolveu.
E quando desci aos vales e as planicies, Deus também estava lá.
Khalil Gibran
Obs.: Khalil Gibran foi considerado na sua época um profeta, brilhante nas palavras e pinturas, nascido em 1883, em Bicharré, na montanha do Líbano, faleceu em 1931.
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